6.9.04

A Indiferença do Império
Marcello (veja coments no post anterior) me pergunta sobre os acontecimentos na Rússia, sobre o terrorismo que matou várias pessoas ali. Algumas centenas, pois até o momento não se há um número exato.
Sim, a gente se comove. Sempre nos comovemos com os que nos parecem semelhantes. O império se comove com o que ocorre na europa, pois são seus semelhantes. É um dos sintomas do nosso ocidentalismo.
Entretanto, minha compaixão no momento não abre espaço para outro acontecimento internacional que não seja o africano. Eu não sou ocidentalista, não me subordino intelectualmente ao império. O atual administrador do império, Bush, já capitaliza o atentado na sua campanha de reeleição.
Enquanto isso, vários países africanos sangram sob o olhar indiferente do império.
Segundo W. Novaes (JC e-mail, 27/08/04), dos 38 países no mundo que enfrentam problemas com a produção de alimentos, 23 são africanos.
Na Eritréia há 2,3 milhões de pessoas passando fome;
Na Tanzânia, 1,9 milhão;
Uganda, 1,6 milhão;
Na Etiópia, 7,2 milhões;
E o mesmo ocorre no Congo, Zimbábue, Lesoto, Suazilândia, Namíbia, Madagáscar, Moçambique, Angola e Guiné-Bissau.
A fome é resultado de uma série de eventos, especialmente de guerras pelo controle do comércio de uma série de matérias primas que servem ao império e seus aliados.
Se não bastasse tudo isso, um enorme ataque de gafanhotos destruíram plantações em vários países entre eles a Mauritânia, Sudão e Nigéria.
Esse massacre diferencia-se do que ocorreu na Rússia em números alarmantes. Não digo que uma coisa seja mais importante que a outra. Digo que a indiferença é que é preocupante e indigna.
O que acontece na África é uma morte sem propoções. É o aniquilamento de 10 mil etnias, uma morte cultural assustadora.
Minha compaixão é para com os africanos e não há espaço para mais nada.

Um comentário:

Valentina disse...

Amélie, você como sempre muito lúcida.
Eu poderia escrever um outro post em cima deste seu, mas não o farei, não agora. Quem sabe um dia desses?
O que mais me horroriza não é só o problema da Rússia, da África, do Iraque, da Argélia, do Brasil... o que me deixa de olhos arregalados é a nossa perda de sensibilidade.
Antes, eu pensava: "as pessoas só se sensibilizam com o que está próximo delas". Hoje, penso diferente: porque ficou próximo demais, as pessoas estão indiferentes. O absurdo agora é normal, não choca. Agora convivemos passivos, achando que essa paisagem é natural.
Desencantada, eu?

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