16.11.04

Da amizade

Meu amigo Cronópio

Eu o conheci há quatro anos atrás, de uma maneira inusitada.
Percorria meio mundo atrás do Livro de Manuel, do Cortázar, uma referência importante para a conclusão de um projeto em que estava envolvida.
Ele, completamente ébrio e eufórico, celebrava o nascimento do sobrinho.
Nos esbarramos num café literário. Ofereceu-me cigarros – gaulois. Recusei, não sou fumante.
Conversamos sobre Cortázar e sua literatura.
Voltei muitas vezes ao tal café, local que ele freqüentava habitualmente.
Muitas vezes nem falávamos, ficávamos quietos, tomando capuccino, enquanto nos deliciávamos com a música de Chat Baker e a voz maravilhosa de Billy Holiday. Entendíamo-nos no mais completo silêncio.
Às vezes, pensava ter reencontrado meu amigo imaginário da época de criança.
Cronópio sabe muito de mim, um muito que pouca gente conhece porque tenho o cuidado de guardá-lo em regiões submersas, de difícil alcance.
A coisa que mais me entristece é ter perdido nossa correspondência, não ter tido tempo de dar materialidade a palavras e sentimentos imateriais.
Cronópio é meio ranzinza e rabugento, características indispensáveis para um escritor mordaz e irônico.
Em noites de chuva e céu gris, lembro-me da dança, da "catala" e pergunto-me se Cronópio, de fato, existe.

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