Salve manas! Salve rapaziada!
Já estava morrendo de saudades do cafofo, mas eu realmente precisava de alguns dias de descanso, de uma parada, respirar, olhar para os lados, contemplar as coisas, pessoas, ME contemplar.
Dez dias não foram suficientes, mas ajudaram bastante.
Como hoje retomo à programação “normal”, ontem resolvi ver um filme bem bestão, bem água com açúcar para saudar a semana. Liguei pro namorado e concordamos que filme cabeção estava riscado das opções.
Decidimos por Dança comigo.


Tudo parecia perfeito: a Susan Sarandon que além de talentosa é linda; o Richard Gere que por mais que falem e falam, eu continuo achando um charme; tem o Gothan Project na trilha sonora; tem a ótima Anita Gillete que é a dona da escola de dança, tem a Jennifer Lopez, bem, a Jennifer Lopez tá lá, faz parte do cenário.
O filme é fofinho, lindinho e mais um monte de inhos que o classificariam bem. A parte da dança é jóia, vibrante, empolgante, vivaz e esse é o problema. O filme pode enganar bem se prestarmos atenção só para isso, porque ele fala sobre relacionamentos, sonhos, desejos, medos de uma forma subjacente e, pasmem, não tem cama, sexo, peito, bunda. Ninguém fica pelado.
A dança é ótima, mas... fiquei com esse mas martelando na minha cabeça. O filme ficou entalado na garganta, senti algo estranho como se degustasse um bombom lindo e delicioso, mas que no final deixa um gosto de remédio, sabem como é?
O meu projeto de ver um filme besta desceu a ladeira. E isso é minha culpa, minha máxima culpa. Eu não sei só ir ao cinema.
A minha leitura do filme ficou comprometida, achei a idéia chauvinista: a mulher bisbilhotando a vida do pobre marido infeliz.
Tá infeliz, belo? Fala, cospe, desembucha, dialoga, faça um sinal de fumaça, comunique-se pelamordedeus!
A minha leitura do filme ficou comprometida, achei a idéia chauvinista: a mulher bisbilhotando a vida do pobre marido infeliz.
Tá infeliz, belo? Fala, cospe, desembucha, dialoga, faça um sinal de fumaça, comunique-se pelamordedeus!
Ser humano é um bicho muito esquisito mesmo!
Penso que a coisa mais difícil numa relação amorosa (e se for longa como a do filme, um casório de 19 anos! Ave!) é conseguir manter a individualidade apesar da promessa de ser casal.
Entendo que quando duas pessoas resolvem viver juntas, elas estão dizendo algo do tipo vamos construir algo nosso, algo em comum. Acontece que ser par não significa perder as identidades individuais, mas trabalhar para que elas convivam com a nova vida a dois. E é normal se em alguns momentos não existir sintonia.
Uma hora o cara vai tá de saco cheio do trabalho e da rotina, ou ela vai ter uma crise existencial, sei lá. O certo é que terão momentos em que as crises pessoais colocarão em xeque o status quo, levando dúvidas e questionamentos sobre si e sobre a vida a dois.
“Está tudo muito bom, está tudo muito bem, mas realmente, mas realmente...”
Nessas horas é legal falar para o outro, mesmo que não se saiba o que exatamente está sentindo, mas deixar claro que está acontecendo alguma coisa.
Mentir é uma MERDA.
Não, não vou dar uma de pseudopsicóloga, mas é que me emputece a repetição dos clichês, da saída externa, de transferir a culpa para o outro.
No filme, a saída que John Clark arrumou para a crise foi externa. Ele não foi dançar para encontrar uma motivação própria para sair da crise e voltar para o casamento mais inteiro, ele entrou numa aula de dança porque sentiu tesão pela personagem da Jennifer Lopez. Ponto.
Ele renasceu com as tais aulas de dança de salão. Ficou feliz,disposto, bem humorado. Fiquei vendo aquela situação e me perguntando, quando ele vai dividir isso com a esposa dele? Nunca?
Duas partes me marcaram profundamente no filme. Elas dão o tom de como cada parte envolvida enxerga a relação. É mais ou menos assim:
A Susan Sarandon marca um encontro para dispensar os serviços do tal detetive particular que contratou para seguir o marido.
O detetive fala que é por paixão que as pessoas se casam. E pergunta pra ela se não foi por isso que ela casou.
Ela diz que acredita que as pessoas se casam porque enquanto indivíduos elas são pequenas, desimportantes. Elas se casam para testemunhar a existência do outro, para confirmar sua importância no mundo, para dividir os momentos e dizer ao outro: eu estive aqui com você, o que você faz é importante, se não for para o mundo todo, é para mim, para os que estão próximos a você.
Puta, lembrei na hora da Hannah Arendt! Bingo.
A outra parte é quando marido e mulher conversam sobre as tais aulas de dança.
Ele pede desculpas por ter mentido. Ele estava infeliz e não era culpa dela, mas que não teve coragem de falar sobre sua infelicidade.
Depois de 19 anos de casados ele ainda tem vergonha de dizer pra esposa que não está bem?
Hello?
Depois completa: eu não disse nada porque não queria magoar a pessoa mais importante da minha vida.
Peraí, mentir e omitir não magoam mais?
Bicho, nós vamos morrer nos debatendo, perdendo as pessoas que amamos por covardia, por falta de respeito, por irresponsabilidade, por egoísmo.
Eu não estou falando da guerra dos sexos, não. Esse papo de homem, mulher, quem presta, quem não presta, quem traiu ou deixou de trair. Estou falando do Homem, da Humanidade.
Como somos capazes de ensinar aos filhos as regras do “certo” e do “errado”, dizendo-lhes “Não minta, não roube, não prejudique o outro, não seja quem você não é”, se não conseguimos ser sinceros conosco e com as pessoas que amamos?
Até quando a gente vai inventar desculpa para ser feliz.
Eu só estou escrevendo esse post porque as promessas de Ano Novo ainda estão bem frescas na minha cabeça e a maior delas, que eu renovo cada dia, cada ano é ser feliz.
Outra coisa: vou continuar vendo filme cabeção. Esses filmes goiabas não levam a lugar nenhum.
Próxima sessão de cinema: O closet.
Até lá.
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