Empalhada
Hacer o que? Sempre há dias difíceis. E às vezes é difícil explicar para alguns mortais como eu que sou capenga com as palavras...
Dias atrás tava de baixo astral, pois que era aniversário da morte de uma pessoa muitíssimo querida. Sinto que demorarei muitos anos para acostumar-me com sua ausência. E eu tenho esperança que me acostumarei, embora conheça (e fique apreensiva com) alguns casos impossíveis.
Os que me conhecem costumam elogiar: 'você está muito bem'.
Mas é aí que a literatura me salva.
Eu retruco com ela:
Fazemos muita retórica sobre Deus,
a morte e as eternidades.
Hoje me escondo sob as aparências:
a roupa está correta, o cabelo sem desalinho,
nunca fui de grandes luxos.
Todo mundo acha que estou indo muito bem,
tendo em vista a brutalidade de tudo.
Mas eu sou antes como um desses bichos
a que arrancaram as entranhas e meteram
estopa de ilusão corpo adentro
para que pareçam vivos e até alertas.
(E sem acreditar em retórica nenhuma.)
Lya Luft (O Lado Fatal, 1991)
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