Acompanhando os últimos acontecimentos do nosso país e acometida de um sentimento profundo de decadentismo humano, resolvi escrever o post de hoje.
Celebramos, neste mês, o centenário de nascimento de Jean Paul Sartre, este que encarnou como ninguém o papel do intelectual engajado, do filósofo, do crítico literário, do contista, do teatrólogo, enfim, alguém que procurou transformar as idéias em práxis política.
Polêmico, intenso, contraditório, Sartre foi aclamado como incentivador de ideais libertários e acusado de alinhar-se aos regimes totalitários.
Observando e analisando o que ele escreveu a respeito da palavra e dos discursos, fico imaginando se não nos encontramos em meio a uma crise de conceitos, exatamente onde ele mencionou em seus estudos.
Ao longo do tempo, alguns conceitos são tão utilizados, na maioria das vezes mal utilizados, que perdem seu valor, banalizam-se, esvaziam-se e caem no Nada, provocando engulhos e náusea em quem os escuta errônea e insistentemente.
Eu fico besta com a facilidade com que as pessoas pronunciam as palavras, esgotando seu valor e teor.
A liberdade, a democracia, a justiça, a moralidade, a ética – belas palavras – se perderam de tal maneira pelo caminho que seus significados não conseguem mais nos alcançar e sensibilizar. Assim quando lábios quaisquer de políticos quaisquer as pronunciam, fica difícil saber, entender exatamente ao que eles se referem, que sentido têm essas tão belas palavras.
E qual a relação de Sartre com os discursos, a liberdade e atual e caótico quadro político que atravessamos? Cito o filósofo Francisco Chaguaceda:
“J. P. Sartre nos mostra que estamos abandonados no mundo e, ao mesmo tempo, faz-nos ver, mediante sua análise da liberdade da consciência humana, que este abandono nos eleva como criadores de nossos próprios valores e como responsáveis por nossas ações. É este o ponto inicial da moral sartriana: o fato de nos sabermos responsáveis por nossa liberdade. Responsabilidade que é tão absoluta e esmagadora como é a liberdade. Deste modo, o filósofo francês nos situa numa moral de situação e de atividade: em cada situação há um ato novo. Estamos, assim, exercendo constantemente liberdade e responsabilidade. Haverá ocasiões em que aparecerá irremediavelmente a angústia. Nossa liberdade de eleição nos angustia de tal maneira, pela responsabilidade que traz consigo, que nos tornamos “covardes” e desejamos fugir de tal responsabilidade, mediante o que Sartre chamará a “má fé”, anulando a liberdade.”
O que houve com o mundo? Quando Sartre morreu, morreram os Homens comprometidos com sua época?
Por onde andam os intelectuais de bem desse país? Quero saber dos intelectuais de verdade, engajados com uma práxis e não desses almofadinhas de mierda que participam de Feiras de Ciência, Congressos, Fóruns Sociais, discutindo questões relevantes de forma inócua, descomprometida e estéril, produzindo um discurso academicista meia-boca e desgastando o sentido de uma boa palavra.
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