
Estive arrumando minha estante no fim de semana passado: limpa aqui, espana ali, muda de lugar e pimba, cai no meu colo, aquele exemplar pequeno, de letras grandes, capa vinho: A lista de Ailce, do saudoso e inesquecível Betinho.
Há umas duas semanas atrás, andei conversando com um amigo sobre a falta que o Betinho faz nesse país, principalmente agora, em tempos tão turbulentos e onde a palavra cidadania pouco vale, se é que vale alguma coisa.
Impossível ter o livro em mãos sem folheá-lo, mais impossível ainda é folheá-lo sem ler até a última página. O livro empolga, emociona, cria uma identidade familiar, fala uma mesma língua.
Se não me engano, este foi o último escrito de Betinho e tenho, cá dentro do peito, a certeza de que ele não poderia ter se despedido de melhor maneira. Betinho descreve lindamente sobre a época que morava em Bocaiúva: memórias de um tempo, um lugar, pessoas, tudo desenhado de maneira muito suave, apesar da depressão, das dores, da AIDS. A certeza da morte não dói, não é mórbida ou funesta, é, no máximo, uma reflexão sobre uma vida e do que se pode fazer com ela.
Eu poderia citar Caymmi nesse caso: “é doce morrer no mar, nas ondas verdes do mar...”, é doce se entregar às ondas de recordações de Herbert de Souza, até porque é impossível falar do Brasil e de sua recente História sem mencionar a importância inconteste de Betinho e Henfil.
Há umas duas semanas atrás, andei conversando com um amigo sobre a falta que o Betinho faz nesse país, principalmente agora, em tempos tão turbulentos e onde a palavra cidadania pouco vale, se é que vale alguma coisa.
Impossível ter o livro em mãos sem folheá-lo, mais impossível ainda é folheá-lo sem ler até a última página. O livro empolga, emociona, cria uma identidade familiar, fala uma mesma língua.
Se não me engano, este foi o último escrito de Betinho e tenho, cá dentro do peito, a certeza de que ele não poderia ter se despedido de melhor maneira. Betinho descreve lindamente sobre a época que morava em Bocaiúva: memórias de um tempo, um lugar, pessoas, tudo desenhado de maneira muito suave, apesar da depressão, das dores, da AIDS. A certeza da morte não dói, não é mórbida ou funesta, é, no máximo, uma reflexão sobre uma vida e do que se pode fazer com ela.
Eu poderia citar Caymmi nesse caso: “é doce morrer no mar, nas ondas verdes do mar...”, é doce se entregar às ondas de recordações de Herbert de Souza, até porque é impossível falar do Brasil e de sua recente História sem mencionar a importância inconteste de Betinho e Henfil.
http://www.webcine.com.br/notaspro/npnosque.htm
Logo após esse fim de semana, a TV cultura apresentou no Cahier du Cinéma, o documentário de Marcelo Masagão, Nós que aqui estamos, por vós esperamos.
Pois é, o filme data de 1999, mas só em uma segunda de 2005 foi que eu tive a felicidade de assistir.
Filme de orçamento baixíssimo, todo feito a partir de imagens de arquivo, salvo a cena final e estruturado numa pesquisa minuciosa e cuidada.
Eu fiquei me perguntando: mas sobre o que mesmo trata esse filme?
Das guerras? Da violência? Do insano século XX?
Como no vestibular, todas as respostas são corretas, mas para mim, que ainda estava imersa no necrológio de Betinho, o filme falava sobre a morte e sobre a vida, mais, em como banalizamos tanto a vida quanto a morte.
Se o Betinho havia me deixado um sabor doce na boca, Masagão jogou-me num cômodo escuro e deprimente.
Nós que aqui estamos... é o retrato pessimista de uma humanidade – resignada – que caminha para a morte; é também, paradoxalmente, o olhar histórico tendo como foco o indivíduo e suas histórias pessoais, suas mazelas, seus (des)amores, sua solidão.
Como duas ficções trabalham tão bem um mesmo tema com perspectivas tão diferentes!
Sim, eu disse ficções! As memórias de Betinho poderiam ser as minhas, as suas ou de qualquer pessoa que tenha a experiência de ter uma família de raiz interiorana, com seus personagens míticos repletos de “causos” de terror, cômicos, fantásticos... essas mesmas memórias poderiam ter sido escritas por Autran Dourado, J.J. Veiga e mais meia dúzia de bons ficcionistas regionalistas.
O documentário de Masagão é a prova de que tudo pode ser ficcionado, inclusive a História, porque a História oficial é escrita e analisada segundo uma estrutura de valores que muda conforme a mão que segura a pena.
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