7.2.06

Plágio

Li no blogue do Carlos e não resisti em reproduzir.

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A floral still life with sculpture, Alfred Bastien

A revolução da delicadeza
(Rubens da Cunha)

O poeta Dennis Radünz afirma que a delicadeza é a última das atitudes revolucionárias que cabem neste mundo. Estamos no tempo da indiferença, no tempo em que a banalidade veste a violência, o sexo, a religião, a política, as artes. Elementos fomentadores de grandes revoluções no passado, mas agora não passam de capricho nas mãos de uns poucos, ou idiotice nas mãos de muitos.
O que resta para um revolucionário de verdade é provocar algum medo, susto, mudança ou nojo, sendo um delicado.
É uma atividade ingrata, feita apenas por sujeitos que serão sempre acusados de não terem razão aparente, de serem desconectados da vida real. A falta de espaço para este tipo de gente é gritante. Experimente não crescer algumas horas por dia. Jogue sobre seu sorriso um pouco de infância: doce de chocolate, bolas de gude, pandorga; retire de seu peito a responsabilidade e brinque de boneca, carrinho, casinha, pique-esconde. Primeiro te chamarão de irresponsável, depois de vadio, por fim de louco. Isso tudo porque você deteve-se na infância durante três horas numa segunda-feira. Faça isso mais vezes por mais tempo em dias úteis. É praticamente uma tarefa impossível. É bem mais fácil matar alguém toda manhã do que descrescer.
Outros delicados que sofrem muito são os observadores. Não podem ver dálias, lírios, pedras cobertas de musgo, insetos azuis, folhas secas ainda nas árvores, pássaros dormindo, nuvens, relâmpagos, abstrações dentro do arco-íris, postes, búfalos na beira do asfalto, jardins, abelhas, malabaristas no sinal que param tudo que estão fazendo e olham, olham, até atrapalhar a pressa de alguém que normalmente os chama de inúteis. São empurrados e achincalhados, mas não desistem.
Há ainda os delicados que fazem coisas estranhas: assoviam, jogam pedras nos rios, caminham de trás pra frente, plantam bananeiras, descascam a laranja sem romper a casca, riem felizes porque conseguiram se superar, choram porque alguém os mandou jogar no lixo e lavar as mãos pois não suportam o cheiro. Os delicados fazedores também visitam cemitérios na busca de epitáfios e anjos, escrevem declarações e fazem castelos de areia na praia. São muito hábeis com barquinhos de papel em dias de chuva.
Por fim, os delicados sentimentais. Tudo lhes ataca diretamente ao coração. Os sentimentos são poços em que estes delicados caem e ficam, ficam, pedem socorro vez em quando, bebem alguma esperança vinda do céu, e agüentam o quanto podem. No tempo dos olhares pétreos, ser um delicado sentimental é belamente triste.
Muitos dos delicados se alojam nos poemas, na música, na dança, outros não agüentam o peso e suicidam-se: não falo da morte física, falo do suicídio de alma, falo dos delicados que se encapuzaram na insensibilidade. Uma pena! Tantos sucumbirem e desistirem da revolução pela delicadeza. Parece que nunca ouviram o nosso irmão maior, Arthur Rimbaud, dizer, "por delicadeza, perdi minha vida". Eis a grande honra e alegria dos delicados revolucionários.

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