Ele me entende tão bem, me radiografa, entranha na minha pele como tatuagem, fazendo-me sua escrava, não largo, até gosto, não nego.
Olha nos meus olhos, ensinando-me a não andar com os pés no chão, fazendo-me acreditar que, tal como uma atriz, posso entrar em sua vida.
Mas na verdade, sou mais uma mulher dentre tantas, de tantos portos. Não ligo, não. Sigo em paz, porque sei que sou a mais bonita no salão de beleza onde as outras penteiam mágoas e eu finjo que finjo que finjo que não sei. Mas sei.
Ele volta por encanto, cantando a meia voz, reinando com seus risos, seus ais, sua tez e à noite ele sonha comigo (talvez). E eu, como moça distraída que sou, despida ou transparente adormeço.
Ele, meu namorado erradio, sai de déu em déu a me buscar... raia o dia, tem sereno, cai a tarde e o meu coração põe-se a balançar.
Vem a noite, ele vai me possuindo, não me possuindo em um canto qualquer, é como as águas fluindo, fluindo até o fim e é bem assim que ele me quer.
Ele desdenha, inseguro, desacredita de mim, duvida do que vê, dizendo-me que seus lábios nos meus lábios não são seus, que seu olho no meu olho não é seu, deve ser um rei, deve ser um deus, o homem que me possui.
Não se afobe, não - falo entre sorrisos!
Não vê que me deixa louca, quando me beija a boca? Não vê que me deixa maluca, quando me roça a nuca, machucando-me com sua barba malfeita?
Com olhos vorazes, voltamos pra cama. E de madrugada a gente ainda se ama.
O meu amor
Chico Buarque/1977-1978
Para a peça Ópera do malandro
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada, ai
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes, ai
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba malfeita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita, ai
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
Me beijar o ventre
E me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz
3 comentários:
Pára Valentina!
Acorda!
Ele não é seu amante.
NÓS é que somos amantes dele.
Entende a abissal diferença????
Amélie! Com licença (poética), o delírio é meu, o "pobrema" é meu! Deixa eu acreditar, deixa eu sonhar. ;o)
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