Da série Bebidas Destiladas II
Ah, como é bom ter um blog! A gente pode falar o que der na telha.
(De onde será que vem essa expressão. Por que a cunharam? Deixa eu anotar... risc risc... vou aproveitá-la para um futuro post da seção Inutilidades ou Hora do Desespero).
Ora essa, se a Martha Medeiros pode escrever o que bem quiser, EU também posso!
Recebi um e-mail de uma amiga com uma crônica da dita cuja, intitulada Impontualidade do Amor. Vou transcrever uma parte:
O amor aparece quando menos se espera e de onde menos se imagina. Você passa uma festa inteira hipnotizado por alguém que nem lhe enxerga, e mal repara em outro alguém que só tem olhos pra você. Ou então fica arrasado porque não foi pra praia no final de semana. Toda a sua turma está lá, azarando-se uns aos outros. Sentindo-se um ET perdido na cidade grande, você busca refúgio numa locadora de vídeo, sem prever que ali mesmo, na locadora, irá encontrar a pessoa que dará sentido a sua vida. O amor é que nem tesourinha de unhas, nunca está onde a gente pensa.
O jeito é direcionar o radar para norte, sul, leste e oeste. Seu amor pode estar no corredor de um supermercado, pode estar impaciente na fila de um banco, pode estar pechinchando numa livraria, pode estar cantarolando sozinho dentro de um carro. Pode estar aqui mesmo, no computador, dando o maior mole. O amor está em todos os lugares, você que não procura direito.
A primeira lição está dada: o amor é onipresente. Agora a segunda: mas é imprevisível. Jamais espere ouvir "eu te amo" num jantar à luz de velas, no dia dos namorados. Ou receber flores logo após a primeira transa. O amor odeia clichês. Você vai ouvir "eu te amo" numa terça-feira, às quatro da tarde, depois de uma discussão, e as flores vão chegar no dia que você tirar carteira de motorista, depois de aprovado no teste de baliza. Idealizar é sofrer. Amar é surpreender.
"O amor é que nem tesourinha de unhas, nunca está onde a gente pensa..."
Que tipo de metáfora é essa??
"Jamais espere ouvir um "eu te amo" num jantar..."
Jamais e sempre são palavras terminativas. Ela nunca fez cursinho pré-vestibular? Parece que não, pois a dica primordial é: toda afirmativa que contém as palavras sempre e nunca é falsa. A única exceção é para a morte.
"O amor odeia clichês."
O amor é o maior clichê de todos os tempos! Até o que não é clichê também é clichê.
"Você vai ouvir "eu te amo" numa terça-feira, às quatro da tarde, depois de uma discussão, e as flores vão chegar no dia que você tirar carteira de motorista, depois de aprovado no teste de baliza."
Eu recomendo a leitura de Fragmentos de um discurso amoroso, de Roland Barthes. É um livro primoroso que localiza a maioria das "surpresas", mazelas e gozo do jogo amoroso.
Ele, o amor, está representado em prosa&verso, pincel&tinta, argila &concreto, luz&câmera, instrumento&partitura pela arte, seja nos grandes encontros, seja nos encontros corriqueiros ou até no desencontro total, em meio ao luxo e à pobreza, convivendo com o belo e o feio, em situações românticas, trágicas ou cômicas.
Não tem lição, não tem receita.
Certo estava Drummond quando escreveu As sem-razões do amor. Se bem que muita vezes o amor é recheado de desrazões.
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