Namorado viajando no Carnaval e eu aqui na Corte, maior maçada, sem muito a fazer, culturalmente falando.
Olho os jornais e só vejo títulos cacetes, mas eis que me deparo com o nome de Johnny Depp. Não pestanejei. Era esse o filme que veria, ainda que fosse mais uma roubada do tipo “cavaleiro sem cabeça”.
Gosto do trabalho desse cara, ele vive intensamente a personagem ao mesmo tempo em que mantém certo distanciamento dela, tem nos olhos aquela fina ironia de quem olha o rei com cerimônia mesmo sabendo que ele está nu.
Depois de Ed Wood, eu vejo tudo que ele faz, até mesmo Piratas do Caribe.
Não foi diferente dessa vez. O filme tem um roteiro primoroso, tem o mérito de falar com propriedade e delicadeza da relação morte/vida, razão/sentimento, além de explicitar o desejo profundo e paradoxal do homem pela ilusão, pelas crenças, transportando-o para um mundo novo, que o mantém a salvo das tragédias cotidianas - tão devoradoras da nossa inocência – apesar da resistência de se entregar aos sonhos, do apego à realidade.
O filme sugere que esse paradoxo só encontra alguma paz nos processos criativos que realimentam a fé, a esperança, a fantasia, nos trazendo à vida de modo menos traumático.
Em busca de Peter Pan é encantador, mágico, bem contado, tocante, é tudo o que eu amo em matéria de cinema.
Saí da sala de projeção maravilhada com o que vi. Quando o filme acabou era como se fechasse um livro após o término da última página. Senti saudades das personagens, do texto bem escrito e uma vontade enorme de reler tudo de uma só tacada, sorvendo cada palavra/imagem como quem bebe chocolate quente em dia de chuva miudinha e preguiçosa.

Nenhum comentário:
Postar um comentário