Mal-estar nacional e otras cositas...
Vamos confessar, para a grande maioria das pessoas com uma formação acadêmica básica, não havia qualquer ilusão quanto as possibilidades de avanço no âmbito político-social por parte do governo Lula-PT...
Sempre convivi com petistas. Boa parte dos meus amigos e conhecidos eram ou petistas ou simpatizantes. Entretanto, quando na última eleição presidencial o PT anunciou sua aliança com o PL, muitos arrepiaram. Choveram críticas. E os simpatizantes começaram a se afastar e a silenciar. Com o PT no governo federal outros fatos (a reforma da previdência, a ênfase no econômico...) ampliaram os afastamentos e silêncios das chamadas "bases"... Eu vivi em Porto Alegre durante uma das administrações petistas municipais e me espantava com a diferença de qualidade do que presenciei lá com o que percebia no início do governo Lula (embora outra grande distinção pode ser notada na experiência gaúcha versus a paulista de Marta...).
Agora, com as evidências mais gritantes de que o maior partido de esquerda deste país comportou-se e comporta-se no poder da mesma maneira que os partidos que sempre criticavam coloca a todos no mais completo estado de estupefação constrangedora...
E eu entro no bolo. Por mais descrente que já me encontrasse desde às últimas eleições presidenciais, ainda assim me comovi com a posse de Lula e ainda assim sinto o mal-estar de agora.
Entretanto, com toda esta crise, todo esse constrangimento, vejo algo positivo. Vejo que o PT cumpre uma função. Se fosse qualquer outro partido, o impacto de tais acontecimentos não nos pareceria tão forte e importante. E portanto, ele cumpre a significativa função de mostrar um problema que não está no partido em si. É pior: é um problema institucional (quiçá cultural!) e, portanto, muito deverá ser feito para que mudanças estruturais aconteçam. E tal processo demandará muito tempo.
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Essas crises servem para lembrar que nem a democracia, nem a república são formas ideais de se viver em sociedade. São apenas as mais razoáveis que conseguimos até agora... E ainda assim, quantos excluídos!
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Dentre os silêncios importantes está o de Marilena Chauí. Pergunto-me se seu silêncio é realmente por ainda não ter conseguido formular uma reflexão a respeito (como ela mesma afirmou para a imprensa recentemente) ou por tê-la mas considerar que, de alguma forma, não é conveniente torná-la pública ou, por fim, realmente considera que não há nada mesmo a dizer?
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Enquanto isso, por essas plagas interioranas esteve uma professora de uma universidade de umas das capitais desse país para palestrar sobre leitura e linguagem.
Entre muitas coisas recorrentes, mas importantes de serem reforçadas entre neófitos, a profi soltou uma besteirinha que virou uma besteirona...
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Disse a douta que a leitura (de literatura) não deveria ser algo obrigatório nas escolas. Que as escolas deveriam usar uma metodologia que levasse 'naturalmente' o aluno ao prazer da leitura. Essa besteirinha saiu do contexto de sua palestra e virou manchete no caderno de cultura do jornal local: "Professora doutora da universidade tal do lugar tal afirma que leitura não deve ser obrigatória nas escolas".
Viva a liberdade de imprensa!
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Lembro-me da minha professora de literatura do ensino médio que me obrigou a ler Dom Casmurro... Como sofri para ler as primeiras páginas e amaldiçoava a bruxa da professora por isso. No final do prazo de leitura fizemos um seminário sobre o livro e saí tão encantada com Machado de Assis que naquele ano de colégio, além das outras leituras obrigatórias ainda li Memórias Póstumas por iniciativa própria. Mas Dom Casmurro tornou-se uma das minhas leituras preferidas... E tudo começou como uma coisa obrigatória...
A professora bruxa virou fada e meu prazer pela leitura tem a contribuição decisiva dela.
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