23.8.05

E a saga continua, meu povo

O embate com o meu umbigo ainda está longe do fim, mas ontem acenei com a bandeira branca, ele foi receptivo ao convite e concordamos em ter paz por duas horas que fosse.

Saímos do trabalho e resolvemos ver o pôr-do-sol juntos. Voltamos a um lugar que sempre nos fora tão caro, quase sagrado.

Ele aquietou-se cumprindo a promessa de manter-se calado.
Tirei os sapatos e sentei-me diante daquelas águas... o céu ainda azul e sem nuvens (amo essa cidade porque ela permite que os meus olhos se percam no ilimitado) e o silêncio reconfortante.

Há poucos metros de mim, uma garça também contemplava o infinito, imóvel, nada parecia lhe tirar daquele estado de transe (ou seria êxtase).

Fiquei admirando sua elegância e sua reverência... como quem sente que é observado, ela faz um único movimento, gira seu pescoço em minha direção e então ficamos as duas nos encarando naquele diálogo mudo.

O sol começava a sumir, olhei para o relógio no pulso e ela para o relógio do tempo... ela compreendeu que era a hora da partida. Enquanto eu punha os sapatos, ela aprumava as asas. Levantei-me e ela alçou vôo. Fiquei mais alguns instantes até perdê-la de vista.

Voltei para o carro mais tranqüila, mas também muito chateada. Quando foi que eu parei de me conceder essas pequenas pausas, essas frações de tempo que me fazem tanto bem; desde quando eu parei de me interagir com a natureza de beleza cotidiana?

As perguntas recomeçaram e meu umbigo despertou, coloquei a mão na barriga, como mãe que acalenta o filho, cantarolando: dorme nenê.

Nenê dormiu a noite inteira. E eu também.

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